Marista Brasil

Como Proteger Crianças e Adolescentes em um Mundo Conectado

Saiba mais

Vivemos em uma era de telas constantes. Crianças e adolescentes têm cada vez mais cedo acesso às redes sociais e ao mundo digital. A tecnologia traz muitos benefícios: facilita o aprendizado, aproxima pessoas e ajuda no desenvolvimento pessoal. Mas também apresenta riscos que não podem ser ignorados.

Estar conectado é natural para as novas gerações, mas isso exige atenção. A exposição precoce ou sem acompanhamento nas redes sociais pode aumentar a vulnerabilidade dos menores a diferentes formas de violência digital. Entre os principais riscos estão: Cyberbullying (ataques, humilhações ou intimidações no ambiente digital), Grooming (aliciamento por desconhecidos), uso indevido da imagem e manipulação de dados.

Esses riscos podem resultar em exploração sexual, exploração comercial, danos emocionais, baixa autoestima, comparações sociais, pressão estética, entre outras demandas de saúde mental.

Além deles, dois fenômenos atuais merecem destaque aqui:
• Sharenting: prática em que pais ou responsáveis compartilham excessivamente fotos, vídeos ou informações pessoais de crianças. Embora motivada pelo carinho, pode aumentar a vulnerabilidade digital.

• Adultização: ocorre quando crianças são expostas precocemente a responsabilidades ou conteúdos próprios de adultos. Presente em casa, na escola e na cultura, no mundo digital é ainda mais preocupante, pois compromete a infância e potencializa riscos.

A legislação é clara, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garantem o direito de crianças e adolescentes à privacidade e proteção de dados. Recentemente, no mês de agosto de 2025, o Congresso Nacional aprovou em caráter conclusivo o Projeto de Lei nº 2628/2022, conhecido como ECA Digital, que cria um marco regulatório para proteger crianças e adolescentes nos ambientes digitais. O texto seguirá para sanção presidencial e entrará em vigor um ano após sua promulgação. Essas legislações reafirmam que a infância deve ser protegida em todas as suas dimensões, inclusive no ambiente digital.

A proteção vai além da lei: famílias, escolas e sociedade devem permanecer atentas, críticas e comprometidas com boas práticas digitais. Observar sinais de vulnerabilidade, prevenir riscos e respeitar orientações de segurança é essencial. Só assim garantimos uma infância segura, saudável e protegida para todos.
A responsabilidade é de todos nós!

Por que precisamos problematizar?

Ao antecipar fases da vida, atribuir responsabilidades ou expor crianças e adolescentes de forma inadequada, muitas vezes retiramos delas o direito de viver plenamente a infância. Isso pode gerar impactos emocionais, como ansiedade, baixa autoestima e dificuldades de relacionamento, além de aumentar a vulnerabilidade a violências digitais.
Postagens frequentes de fotos, vídeos e rotinas da criança, sem reflexão prévia sobre os riscos, podem parecer inofensivas. No entanto, expõem meninos e meninas a situações de risco.

Diante disso, precisamos nos perguntar: “Estamos preservando e cuidando das infâncias? É fundamental que as famílias estejam atentas a sinais de adultização precoce ou exposição digital inadequada, tais como:

• Comportamentais: uso excessivo de telas, dificuldade em cumprir combinados, esconder celular ou computador, alteração no sono, mudanças repentinas de humor, isolamento ou passar muito tempo sozinho.

• Sociais: perda de interesse em brincadeiras, evitar sair de casa, conflitos frequentes com colegas, adoção de comportamentos adultos precoces, resistência ou falta à escola, queda no rendimento escolar.

• Emocionais: baixa autoestima, preocupação exagerada com a imagem, vergonha do corpo, comparações constantes com influenciadores digitais, medo ou ansiedade em acessar redes sociais.

O que fazer diante desses sinais?

• Dialogar sem julgamento, criando espaço de escuta e acolhimento antes de impor sanções

• Acompanhar o uso digital, com interesse genuíno de: saber o que acessam, com quem conversam e quanto tempo passam conectados

• Estabelecer combinados claros sobre horários, locais e momentos de uso

• Buscar o apoio da escola, compartilhando suas preocupações e observações

• Acionar serviços de proteção se identificar indícios de violência

Dicas práticas para famílias

• Reflita antes de postar: pense se a foto ou vídeo pode expor demais a criança ou causar constrangimento no futuro.
• Respeite a privacidade: Evite publicar informações que identifiquem a rotina ou localização da criança/adolescentes (uniformes, placas de carro, endereços, escola)

• Supervisione com carinho: acompanhe o que seus filhos acessam, com quem se conectam, mas também ouça suas demandas e respeite sua autonomia progressiva.

• Promova o diálogo: Converse com a criança/adolescente sobre o que pode ou não ser compartilhado, incentivando autonomia com responsabilidade

• Estabeleça combinados digitais: Defina horário de uso, regras de privacidade, aplicativos permitidos e limites, respeitando as idades mínimas das plataformas.

• Utilize recursos de privacidade e controle parental disponíveis em aplicativos e redes

• Valorize o brincar offline: Incentive momentos de convivência sem telas, resgatando brincadeira e tempo em família.

• Atenção ao que é consumido nas músicas, vídeos e outros conteúdos: Tenha atenção às letras, vídeos, jogos e séries, evitando conteúdos inapropriados ou que incitem comportamentos inadequados para a idade.

• Dê o exemplo: pratique hábitos digitais saudáveis — se os adultos vivem conectados o tempo todo, a criança tende a reproduzir.

• Mantenha-se informado e informe: acompanhe novidades sobre aplicativos, jogos e desafios virais para orientar com conhecimento atualizado e ensine a identificar conteúdos falsos, incentive senso crítico para diferenciar fake news, publicidade disfarçada e comparações irreais.

Proteger crianças e adolescentes no ambiente digital é mais do que evitar riscos: é garantir que eles possam crescer em segurança, viver inteiramente cada fase da infância e da adolescência e desenvolver relações saudáveis com a tecnologia. Isso só é possível quando famílias, escolas e sociedade caminham juntas, compartilhando responsabilidades e construindo espaços de diálogo, cuidado e confiança.

A tecnologia é parte do presente e do futuro das novas gerações, mas o modo como a apresentamos e acompanhamos faz toda a diferença. Que possamos oferecer além da proteção, orientação e afeto, para que todos sejam protagonistas de uma vida digital mais consciente, ética e segura.

Gerência Socioeducacional/ Qualidade Social da Educação

Referências
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
BRASIL. Lei nº 12.965/2014 – Marco Civil da Internet.
BRASIL. Lei nº 13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
SAFERNET BRASIL. Cartilha de Segurança na Internet. Disponível em: https://www.safernet.org.br.
INSTITUTO ALANA – Programa Criança e Consumo. Disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/

Categorias